Lá, o tempo anda rápido e para chegar onde quer que seja deve-se correr, pois a probabilidade é de sempre estar atrasado… Algumas vezes eu canso e simplesmente paro, mas isso é contra a lei em Kulpáh, parar nunca.
Em Kulpáh não há descanso, os habitantes estão sempre em movimento, percorrendo as ruas e vielas de pedras quentes que em tudo lembram fogo em brasa.
Arquitetura interessante, tudo ali é escuro, o clima sempre úmido e quente.
Não, engana-se quem pensa que Kulpáh se ilumina. O sol não ilumina Kulpáh e o todo calor vem dos habitantes.
Ali todo mundo vive com a temperatura elevada, o coração disparado e perdido entre o tempo e o caminho. As ruas sempre estreitas e cheias de limo, as casas cobertas de mofo, paredes e muros também cobertos de limo…
Descobrir um caminho pra sair de Kulpáh é a principal ocupação dos moradores, o prefeito sabe disso e como não pretende governar pra uma cidade deserta, impõe severas penas a quem tenta sair.
A pior delas é trancafiar o condenado em um labirinto espiral, só ele e sua culpa subindo e descendo, sentindo e re-sentindo sempre a mesma coisa, obsessivamente o mesmo caminho. Mesmo assim todos querem sair, todo mundo tenta.
É uma tarefa hercúlea, como diria uma vez um dos primeiros ditadores, um sujeito certinho e metódico. Transformou Kulpáh em um inferno com regras pra tudo e tudo levava sempre ao centro cidade. O centro foi ficando super lotado, as grandes famílias foram se mudando pro centro e com isso toda a sua linhagem se alojou por lá também.
O centro cresceu o quanto pôde, mas logo os moradores não conseguiam andar pelas ruas pequenas demais pra tanta gente… Esse império estava crescendo tanto que poderia invadir as outras cidades ao redor e todos ali sabiam que isso significaria a derrota de todo o mundo. Kulpáh seria como Roma e nem mesmo os habitantes de lá suportariam viver nesse Ser.
Um dos problemas de movimentação daquele centro lotado eram os glóbulos oculares virados pra dentro, fazendo os kulpahdos se guiarem tateando tudo a sua volta. As grandes famílias “sangue real” eram reconhecidas pela natureza da sensação que causava em que os tocasse. Por isso não havia muita miscigenação.
Os filhos e descendentes da quatrocentona Mhedoh Panih, acabavam sempre se casando com Hangust Cooo, repeliam os da família Irah, um problema. Ninguém consegue chegar perto dessa família, não por menos está quase extinta. Eles já foram bem numerosos, hoje são poucos, em numero suficiente para Kulpah inteira ficar sempre alerta para o caso de tocar um Irah.
Foram tantas uniões entre os Panih e os Cooo que já são considerados uma família de elite, os Panihcooos. Com temperamento interessante, correm o tempo todo, mas não conseguem lembrar de um caminho. Eles tremem muito e a voz é um não sei o que entre sussurro, lamento e gemido. Arrepiante de se ouvir vem das profundezas do Medoh mesclando as palavras entrecortadas e cheias de ar, característica dos Hangust.
Enganado está quem pensa que os prefeitos descendem de alguma família, o prefeito é sempre alguém de fora.
Ninguém em Kulpah sabe ao certo como um prefeito é escolhido ou substituído. Ele um dia está lá. E os kulpahdos só descobrem isso quando as mudanças na cidade começam acontecer.
Existem várias entradas pra Kulpah, mas a saída está sempre mudando de lugar, por isso é tão difícil sair. Os banidos já chegam prontos pra ficar. Com os olhos voltados para dentro saem tateando a saída, mas existem os que quando chegam ainda tem o corpo da cidade natal. O único problema é que em Kulpah as naturezas não se mostram, cada um está olhando pra dentro até que você começa a olhar pra dentro também. Esse foi o erro de muitos visitantes corajosos e loucos perdidos. E continua até hoje…
Se conseguir virar a órbita pra fora você enxerga que tudo em Kulpah é sensação e o caminho é indicado com grandes letras em neon “Saída”.
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